segunda-feira, 31 de agosto de 2009

A DESMORALIZAÇÃO DA POLÍTICA

Por Emir Sader
Um dos maiores consensos nacionais é a desmoralização da política e dos políticos. Esporte fácil, dos mais praticados nas rodas de conversa, alimentado pela imprensa e favorecido pelo comportamento dos parlamentares, que, no entanto não tem alterado em nada a composição do Parlamento – individualizado como a instância por excelência da política -, políticos acusados sistematicamente pela imprensa como pivôs de grandes escândalos – como Collor, Sarney, Renan, entre tantos outros – têm sido reeleitos sistematicamente. Ao mesmo tempo, outra instância que personifica a política – os governos – tem tido em geral grande apoio do eleitorado, nas eleições e nas pesquisas, salvo casos limites – como o de Yeda Crusius.
Ao mesmo tempo, as pesquisas sobre credibilidade colocam o Congresso sempre em posição muito ruim e a imprensa em posição de destaque. No entanto, os jornais baixam sistematicamente sua tiragem em um caminho sem volta para sua crise definitiva, enquanto suas vítimas privilegiadas são eleitos e reeleitos. E ao mesmo tempo, a imprensa, que teria muita credibilidade e fabrica – literalmente – a “opinião pública”, é quem mais influenciaria a população, se choca com a vontade dos eleitores, que tem reiterado a maioria de partidos – como especialmente o PMDB – atacados centralmente pela imprensa. Quem tem mais apoio da população – como algum que outro acusado já disse: a imprensa, que não se sustenta no voto popular, ou os parlamentares, que são submetidos periodicamente à consulta da cidadania?
Em última instância: de onde vem a desmoralização da política? Quem se aproveita disso? Qual a credibilidade que a imprensa tem? Qual seu poder de influência? Como se constróem os consensos no Brasil?
Na transição da ditadura para a democracia, a política estava em alta, contra o poder militar, que sempre buscou desmoralizá-la: as cassações se faziam contra dois grupos de políticos, os supostamente subversivos e os corruptos. A derrota das eleições diretas para presidente – recordemos o papel da Globo, que tentou, até o ultimo momento, desconhecer a campanha, para finalmente aderir a contragosto, quando já era um consenso nacional – levou a que o novo regime não representasse claramente uma vitória da democracia contra a ditadura. A conciliação feita no Colégio Eleitoral – em que a oposição dependia de votos dos partidos do governo – deu a nova cara da democracia: uma conciliação entre o novo e o velho. No lugar do candidato natural da oposição - Ulysses Guimarães, o conciliador Tancredo Neves, tendo como vice o até poucas semanas antes presidente do partido da ditadura, José Sarney, que havia liderado a campanha da ditadura contra as eleições diretas, ao mesmo tempo que nascia um partido que saia no derradeiro momento do bloco do governo, o PFL, para somar-se ao carro vencedor e tentar distanciar-se do regime moribundo.
Uma chapa – Tancredo-Sarney -que expressava claramente a conciliação entre o velho e o novo.
As circunstâncias – morte de Tancredo e presidência de Sarney – consolidaram a presença do velho, pelo papel mais destacado que tiveram políticos centrais na ditadura – de que o caso de ACM é o mais significativo, embora não o único. A frustração do governo Sarney, restringindo a democratização ao plano político-institucional – no marco estritamente liberal, sem democratização econômica, social, midiática, cultural – recolocou o tema da desmoralização da política, de que Sarney foi uma expressão clara, por seu governo, por sua capacidade camaleônica de reciclar-se rapidamente da ditadura para a democracia, pelo poder oligárquico que mantêm no Maranhão e por sua capacidade de eleger-se, artificialmente, por outro estado como senador, assim como por seus vínculos estreitos e promíscuos com a grande imprensa – através de ACM, que distribuiu os canais de rádio e televisão pelo Brasil afora para a conquista do quinto ano de mandato para Sarney -, de que a propriedade do canal da Globo no Maranhão é um exemplo, além da transferência da sua influência para eleger filhos seus – Roseana e Zequinha.
Collor, na sua campanha, tratou de capitalizar essa nova desmoralização da política, aparecendo como um outsider, supostamente contra as oligarquias tradicionais da política – como desdobramento da “modernidade” que prometia, contra os “marajás” e a favor da abertura da economia, contra “as carroças”, que seriam os carros fabricados no Brasil. Como isso, Collor colocava, pela primeira vez de forma aberta, dois eixos do consenso neoliberal, que se impunha na America Latina e no mundo: a desqualificação do Estado e a abertura para o mercado externo.
Seu caráter pretensamente bonapartista de governar, se exercia contra a política e os partidos – sua própria eleição por um partido de aluguel expressava a crise dos partidos tradicionais: recordar o pífio resultado de Ulysses como candidato do PMDB, assim de outros representantes de partidos, como Covas, Afif Domingos, Roberto Freire, entre outros. Collor buscava construir um novo bloco no poder, em torno da sua figura e do ideário neoliberal.
Collor viria logo se somar à lista de políticos coruptos – cuja lista incluía centralmente a Maluf, ACM, Sarney, Quércia, entre muitos outros. Mas a nomeação de FHC para comandar a economia por Itamar Franco, permitiu ao PSDB retomar a plataforma neoliberal, de forma mais articulada. Retomava também os pressupostos ideológicos do neoliberalismo: o Estado é o problema e não a solução, promoção da centralidade do mercado no seu lugar.
O neoliberalismio busca desqualificar o Estado, especialmente as regulações – que se contrapõe à livre circulação do capital, aos gastos em políticas sociais e em qualificação e melhor remuneração dos funcionários públicos, além da privatização das empresas públicas.
Um dos seus objetivos, portanto, é enfraquecer o Estado, considerando seus gastos como fonte inflacionária, pregando a diminuição constante dos impostos, para favorecer a transferência de recursos do Estado para o mercado.
O Estado e o conjunto da esfera política foram alvo sistemático das forças neoliberais, tendo a imprensa privada como agente fundamental dessas campanhas, valendo-se das denúncias – quase sempre reais – de casos de corrupção de políticos, da malversação de verbas estatais, da contratação de servidores públicos – sem atentar quando se trata de gastos socialmente inúteis ou quando se trata da prestação de serviço para a massa da população, como é o caso de professores, médicos, enfermeiras, assistentes sociais, entre outros.
Sempre se tenta tomar casos individuais para buscar criminalizar a totalidade da política e das ações do Estado. Toma-se casos particulares de comprometimento com a corrupção – como os casos de Severino, aliás eleito pela oposição contra o governo, de Sarney, de Renan (sempre deixando de lado os aliados atuais do bloco de direita, como é o caso, por exemplo, da ausência de Quercia, atual aliado de Serra, ou dos membros do DEM e dos próprios tucanos, como foram os casos de Artur Virgilio, Sergio Guerra, Tasso Jereissatti, Yeda Crusius – para tentar generalizar para todos os políticos. Toma-se eventuais irregularidades, por exemplo na distribuição do Bolsa Família, em alguns casos individuais, para se tentar desqualificar um programa que beneficia mais de 60 milhões de pessoas.
Um Congresso fraco não tem condições de definir leis que limitem a livre circulação do capital, o poder sem controle da mídia (como pode ser o caso da Conferência Nacional de Comunicação), a denúncia dos casos de corrupção de empresas privadas, de sonegação fiscal por parte dessas empresas, de controle sobre os ganhos gigantescos dos bancos privados, da superexploração dos trabalhadores pelas empresas privadas, da deterioração do meio ambiente por conglomerados privados urbanos e rurais – entre outras iniciativas. O Congresso fica voltado para casos que a imprensa privada escolhe como seu objeto privilegiado de denúncias – aqueles que buscam afetar políticas de alianças do governo, como se o PMDB e os políticos denunciados agora fossem menos corruptos quando eram aliados de FHC e não eram submetidos a essas denúncias. Tenta colocar o Estado e o governo na defensiva, quando tenta desqualificar programas sociais, gastos na contratação de servidores públicos, investimentos de infra-estrutura ou outros planos como os habitacionais, como gastos inúteis, que recairiam em aumento da tributação.
Tratam de criar o clima de que o Estado tem um papel essencialmente negativo, ao tributar muito e gastar de forma irresponsável. Era esse o discurso de FHC quando candidato, tendo como mote a idéia de que “o Estado gasta muito e gasta mal”, que era um Estado falido. Quando terminou seus trágicos 8 anos de presidência, a dívida pública tinha se multiplicado por 11, o Estado tinha se desfeito, a preço de banana, depois de sanear as empresas com dinheiro público, de patrimônios fundamentais do Estado, como a Vale do Rio Doce, os gastos sociais tinham diminuído e, ainda assim, o Estado acumulava uma inflação alta e sem controle por parte do Estado. Nunca o Estado gastou tanto e tão mal, como quando governou o bloco tucano-demoniaco.
Estado e Congresso fracos significam mais espaço para se fortalecer o mercado, isto é, o espaço de domínio e controle das grandes empresas privadas. O bloco opositor termina aceitando que as políticas sociais do governo são positivas, mas tenta esconder que elas supõem tributação e redistribuição do ingresso através de um Estado regulador. Tem que reconhecer que o Brasil saiu antes e mais rapidamente da crise, mas tenta esconder que a indução à retomada do crescimento foi basicamente estatal. Denuncia casos de irregularidade no governo, mas busca esconder, por exemplo, o envolvimento da Sadia e do Unibanco, entre outras empresas privadas brasileiras, na compra irresponsável de subprimes, o que levou à sua falência e compra por outras empresas. Os maiores escândalos contemporâneos não se situam na esfera do Estado, mas no das grandes empresas privadas, como tem se tornado público no caso de algumas das maiores empresas privadas norteamericanas.
No caso do Brasil, tornou-se consensual a idéia de que o PMDB, por ter sido o partido majoritário desde o fim da ditadura militar, se vale do seu papel chave para a obtenção das maiorias pelos governos de turno, para se apropriar de cargos chave nos governos e no Congresso, onde desenvolve práticas fisiológicas. Foi assim nos governos Sarney, Collor, Itamar, FHC e agora no governo Lula. Quando se aliam ao bloco de direita, cala-se em relação a essas práticas, quando elas favorecem o bloco agora governista, se tornam alvos privilegiados das denúncias, tentando desarticular as alianças do governo no Congresso, dado que fracassaram ao tentar desqualificar a Lula com denúncias e ao se dar contra do imenso apoio popular que o governo tem.
Mas se a imprensa mercantil, com o controle monopólico na TV, nos jornais, nas revistas e nos rádios, forja a opinião pública, essa maioria do PMDB é o resultado, como um bumerangue, que retorna do tipo de despolitização que essa imprensa difunde. Ela costuma dizer que “o povo brasileiro não tem memória”. Mas é essa mídia a que produz o esquecimento. Senão teria que dizer que:
- todas essas empresas apoiaram o golpe militar
- A grande maioria apoiou o governo Sarney
- A grande maioria apoiou o governo Collor
- Todas apoiaram o governo FHC do começo ao fim
- Todas apoiaram o Serra e Alckmin.
Tornaram-se instrumentos de propaganda do bloco de direita, que tenta reaver o controle do Estado brasileiro, contra um governo que detêm 80% de apoio da população, enquanto eles conseguem obter apenas 5% de rejeição do governo que atacam noite e dia.
Querem a política desmoralizada, em favor do mercado. O Estado mínimo, fraco, em favor da força das grandes empresas privadas. Um Congresso desmoralizado, para que não possa legislar sobre nada, deixando que as leis de oferta e de procura defina tudo na sociedade.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

GLOBO X RECORD = RATO COMENDO RATO

por Laerte Braga
Há uma diferença entre o modus operandi da quadrilha GLOBO e o da quadrilha RECORDE. Ou, mais precisamente, de Edir, o Macedo. A quadrilha GLOBO reveste-se da sofisticação FIESP/DASLU. Sugere que a rede seja povoada de príncipes, duques, marqueses, condes, viscondes e barões. Tenham, todos, perfeita noção de como se comportar em público, algo assim como bater carteira em uma dimensão impressionante, sem que as vítimas percebam e até sintam-se agradecidas pelo privilégio de poder assistir Xuxa aconselhando e formando as nossas crianças.
Olham para o outro lado quando cometem toda a sorte de crimes que pode um veículo de comunicação, uma rede com seu tamanho, cometer. Todos de terno, gravata, combinação perfeita até a roupa debaixo.
Edir, o Macedo, esse não. Tem consciência que existem métodos capazes de fazê-lo chegar a ingênuos e incautos e construiu um império na base do "dá ou desce".
GLOBO e RECORDE servem ao mesmo senhor.
As denúncias feitas pelo programa "REPÓRTER RECORDE", edição de domingo 16 de agosto, são todas verdadeiras, inclusive as que dizem respeito às promíscuas relações da REDE GLOBO com setores do Ministério Público de São Paulo. São Paulo! É preciso prestar atenção a esse detalhe. Um país vizinho que fala a mesma língua. E vêm com um exército de tucanos, democratas, mais alguns carregadores de mochilas dos senhores, caso de Roberto Freire, numa tentativa de transformar o Brasil, definitivamente, num estado norte-americano.
As denúncias sobre Edir Macedo, requentadas ou não, são reais.
O programa da RECORDE foi certinho, se é que nesse amontoado de bandidos existe alguma coisa ou alguém certinho - a não ser na bandidagem -, até a entrevista de Edir, o Macedo.
A explicação do "bispo" sobre o vídeo em que aparece orientando seus pastores a tomar dinheiro dos fiéis é inacreditável em termos de cara de pau. A figura em questão dizia aos pastores que quem quiser doar bem, quem não quiser amém, só que de um jeito bem ao estilo Beira-mar. "Ou dá, ou desce". "Cândido", "vítima", "salvador de almas", explicou que quem dá sobe no mundo espiritual e quem não dá desce no mundo espiritual.
Putz! É uma sem vergonhice próxima do absoluto.
Creio que nos dias seguintes deverão entrar em cena os representantes dos senhores de tudo e todos - ou quase todos - para explicar que essa briga não interessa a eles donos dos "negócios" e é preciso acabar antes que os danos sejam irreversíveis.
A cara de pau de Edir, o Macedo, quando falou de "fé emocional", sugerindo que a fé que vende seja racional, em crítica direta ao padre Marcelo Rossi, beira a perfeição. Foi assim como um piparote para quem entende que pingo é letra. Marcelo Rossi é a resposta da Igreja Católica, dos setores mais atrasados dessa Igreja (controlam Roma desde a ascensão de João Paulo II) ao avanço neopentecostal às suas fileiras. Não há diferenças entre o "bispo" e o padre, só de estilo.
E a ameaça de Macedo. Levar sua igreja aos muçulmanos. Insere-se no projeto político de dominação e domesticação dos povos do Islã. Os muçulmanos ocuparam a Espanha por três séculos e quando saíram os monumentos e igrejas cristãos estava intactos, preservados. Onde as hordas das cruzadas comandadas por papas passaram, no Oriente Médio, a política foi de terra arrasada contra os "impuros".
Edir, o Macedo, cumpre um papel político. Tanto se insere num contexto geral, dos donos do mundo, como se beneficia disso, gerindo um império de proporções impressionantes.
A GLOBO é a mesma coisa. Cumpre o mesmo papel. Ao longo de sua história construída sobre fraudes e sustentando-se na ditadura militar, serve hoje a Washington e ao modelo econômico neoliberal, logo, a esse modelo político asfixiante e que se constitui em termos de História, numa fase aguda da exploração do homem pelo homem.
Macedo já está em Miami, base das grandes quadrilhas que operam as mais variadas modalidades criminosas, desde as legalizadas, às chamadas do crime organizado. Joga, esperto que é, com a própria divisão entre os donos. O lado vaselina, que é o de Barak Obama (o garçom) e o lado areia, do esquema de Bush e outros.
Como donos são donos, eles se entendem e nesse esquema sórdido tanto um quanto outro, GLOBO e Macedo se tornam necessários. Desde, evidente, que não ultrapassem determinados limites e a briga entre ambos não prejudique os "interesses maiores". Aí, o que for mais fraco dança. Neste momento Macedo joga um jogo arriscado, mas escorado em oito milhões de fiéis, um eleitorado e tanto. Sabe que seu adversário, GLOBO, enfrenta dificuldades, sustenta-se de dinheiro público e o padrão chamado global começa a dar sinais de esgotamento.
A comunicação é fator de extrema importância nos dias de hoje. Você pode pegar um grupo de dentistas, por exemplo, que ao arrepio da ética vão dizer que Colgate é melhor e previne e evita cáries. Ganham um bom dinheiro para isso. É só um exemplo de um processo mais amplo que transforma o ser humano em rês. Em mero consumidor. Vazio e despido do mínimo espírito crítico diante de si mesmo, logo algo amorfo. Não contesta e admite as formas de escravidão sob as quais vive.
Amplie tudo isso é enxergue o mundo em que automóvel se transforma em anjo de guarda e bancos e grandes empresas, os grandes latifúndios, em templos do capitalismo. O deus mercado.
A GLOBO tem investido contra o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, acusando-o de restringir a "liberdade de imprensa", ao fechar rádios e tevês como a GLOBO e a RECORDE e a criar rádios e tevês comunitárias, ligadas a sindicatos, associações do movimento popular, ou mesmo à iniciativa privada, mas dentro de parâmetros de verdade, ética na informação e tudo o que não existe no Brasil nas "famílias" que controlam o setor.
A reação a RECORDE é apenas a reação a um novato que entra de cabeça no meio e afeta os "negócios" até então bem divididos entre redes de tevê, jornais, revistas e rádios.
Para melhor ilustrar, Mariel Mariscot era um policial ligado a grupos torturadores à época da ditadura. Corrupto, deixou a Polícia, transformou-se em estrela de televisão por uns breves momentos e resolveu ser banqueiro de jogo de bicho. Esbarrou nos donos do jogo do bicho. Não queriam concorrência no clube que geriam. Mariscot apareceu morto sem que se apurasse o culpado, ou culpados.
Não é o caso de Macedo, lógico. Tem respaldo no clube freqüentado pelos donos. Mas sabe, ele próprio, que não pode esticar a corda a ponto de arrebentá-la. Como sabe a GLOBO que há também um limite nessa história.
Está prevista uma conferência nacional de comunicação para dezembro. A idéia é discutir toda essa realidade e abrir caminhos para a efetiva democratização do setor. Nada de tratar o cidadão como idiota, definição de William Bonner para o telespectador do JORNAL NACIONAL.
Os bandidos sabem disso e já começam um movimento de cerco a essa conferência. A Fundação Ford, partícipe de vários golpes de estado na América Latina, se prontifica a ajudar a organização da conferência. Esse ajudar aí equivale a meter o tacão de ultra direita e manter o controle. Chávez não restringiu liberdade alguma de informação.
Chávez colocou o dedo na ferida. O papel que cumprem as grandes redes de tevê e rádio como a GLOBO e a RECORDE.
É necessário fazer o mesmo por aqui. Do contrário grandes complexos de comunicação irão se constituir, sempre, em fator de controle e alienação, como hoje GLOBO e RECORDE. Ou como VEJA, FOLHA DE SÃO PAULO, todo o espectro da informação em nosso País.
É preciso explicar, apurar cada centavo de dinheiro público dado à GLOBO, desde sua fundação, passando pela ditadura militar (da qual foi o principal instrumento de comunicação), aos convênios que geram programas educativos às cinco da manhã (para ninguém), aos socorros ilegais dados pelo BNDES em momentos de situação falimentar. Às ligações com os grupos que governam São Paulo. E começam em Mário Covas, passam por Geraldo Alckimin e chegam a José Serra.
O próprio governo federal, vítima constante de chantagens da rede. Como no episódio do falso dossiê nas vésperas das eleições de 2006. A GLOBO deixou de lado a queda do avião da GOL para cumprir seu papel dentro do esquema FIESP/DASLU. Notórios criminosos.
Como é necessária uma ampla discussão sobre o papel das redes de tevê e rádio no País. São concessões de serviço público e têm regras básicas definidas, ainda que falte legislação específica, como existe em países outros. Na Grã Bretanha, na matriz, os EUA.
Bem mais que isso. Ação do governo federal para coibir e redesenhar o setor, privilegiando a comunicação voltada para processos de formação e conscientização do brasileiro. Não o atual, de alienação e mentiras a serviço dos piores criminosos que se possa imaginar. Sejam eles os irmãos Marinho, seja ele um pilantra do "dá ou desce" como Edir Macedo. E todos os outros.
Do contrário vamos continuar assistindo ao filho de Renan Calheiros ganhando concessões de rádio. A José Sarney dono das afiliadas da GLOBO no seu feudo. A família de ACM na Bahia. A Collor de Mello em Alagoas. A tucanos/democratas no sul do País.
E a todas essas armações para transformar Brasil e brasileiros em terra de ninguém e num monte de "ninguéns".
Mas todos ávidos consumidores de coca cola, sanduíches da rede McDonalds, transgênicos da Monsanto, remédios dos laboratórios que montam pandemias como a gripe suína para auferir lucros fantásticos. E Colgate para os dentes brilharem até na hora que o distinto ou distinta estiver espirrando com sinais de gripe suína.
É isso o que querem, é esse o papel que cumprem. O caráter "religioso" da rede de Macedo não difere do da GLOBO. É a religião do consumo. Das legiões de zumbis. Uns fascinados com o "bispo" do "dá ou desce", outros com os heróis de Pedro Bial no bordel em casa, o BBB.
São iguais, rato comendo rato.
Donos do mundo, como se beneficia disso, gerindo um impeiro dos fio norte-americano.


VOZ DO BRASIL é um boletim que discute questões polêmicas na sociedade, no Estado e na cultura brasileira

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

É preciso um novo modelo agrícola para o país

Por João Pedro Stedile

Os problemas do desenvolvimento do meio rural e da construção de uma sociedade menos desigual, que resolva os problemas da pobreza, da educação e do direito à terra, passam atualmente por duas iniciativas complementares.
De forma urgente, o governo precisa enfrentar os problemas mais agudos da pobreza no campo. O governo Lula está em dívida com a reforma agrária. Temos ao redor de 90 mil famílias acampadas à beira de estradas, passando por todo o tipo de necessidade por anos e anos.
Em 2005, o governo prometeu cumprir a lei agrária e atualizar os índices de produtividade para desapropriação, que são de 1975.
Até hoje, nada mudou. Em sete anos, apenas 40 mil casas em assentamentos foram construídas com crédito público. O pior é que, por causa da crise, cortaram pela metade os recursos do Orçamento para reforma agrária neste ano.
Em segundo lugar, o MST tem procurado debater com a sociedade e com o governo a n ecessidade de construirmos um novo modelo de produção na agricultura.
A partir dos anos 90, com a hegemonia do capital financeiro e das empresas transnacionais, foi se implantando o modo de produzir do chamado agronegócio, totalmente dependente desses interesses.
O jeito de produzir do agronegócio está baseado em latifúndios voltados para a monocultura de cana, de café, de soja, de laranja, de algodão ou para a pecuária extensiva.
Os latifundiários, proprietários de áreas com mais de mil hectares, aliaram-se a empresas transnacionais, que fornecem os insumos -sementes transgênicas, fertilizantes químicos, venenos agrícolas e máquinas.
Depois disso, conglomerados estrangeiros passam a controlar o mercado com a garantia da compra das commodities, impondo os preços. A maior parte da produção se destina ao mercado externo e, por ter que repartir o lucro, fazendeiros procuram aumentar a escala, concentrando ainda mais terra e produção. Isso é perverso para os interesses da economia nacional e do povo brasileiro.
Esse modelo se sustenta no elevado uso de agrotóxicos, em vez de mão de obra e práticas agroecológicas. Não é por nada que o Brasil se tornou o maior consumidor mundial de venenos agrícolas, que degradam o solo e contaminam as águas e os alimentos que vão para o estômago.
A classe média alta é sábia e busca consumir produtos orgânicos, mas o povo não tem alternativa. Além da intoxicação, causa desequilíbrio no ambiente, com a monocultura que destrói a biodiversidade.
O agronegócio é totalmente dependente do capital financeiro. O governo terá que disponibilizar R$ 97 bilhões em crédito para produzir R$ 120 bilhões, o valor do PIB do agronegócio, que não consegue sozinho comprar os insumos e produzir.
Ou seja, a poupança nacional é usada para viabilizar a produção e o lucro de latifundiários e empresas transnacionais.
Esse modelo é inviável do ponto de vista econômico, pois nenhum país se desenvolveu exportando matéria-prima. Os Estados Unidos, usados como modelo, exportam apenas 12% de sua produção agrícola.
O país utiliza 200 milhões de hectares para criar 240 milhões de cabeças de boi de forma extensiva, que se destinam basicamente para a exportação, sem nenhum valor agregado.Além do problema do efeito estufa, essas exportações rendem ao redor de US$ 5 bilhões por ano. Os 7.000 operários da Embraer, que produzem aviões e peças, exportam praticamente o mesmo valor por ano.
Infelizmente, o governo Lula fez uma composição com as forças do agronegócio, com a ilusão de que sustentariam o desenvolvimento do campo. No entanto, deveria dar prioridade à reforma agrária e à pequena agricultura, deixando o agronegócio para o mercado, que tanto defendem.
Os movimentos do campo, da Via Campesina, da Contag, das pastorais sociais, que co mpõem o Fórum Nacional pela Reforma Agrária, defendemos que o Estado e o governo priorizem uma nova política agrícola, com base na democratização da terra, cada vez mais concentrada e valorizada.
Em segundo lugar, a prioridade deve ser a produção de alimentos sadios para o mercado interno.
Em terceiro lugar, a interiorização de pequenas e médias agroindústrias sob controle de cooperativas de trabalhadores. Aliás, é nesse tipo de atividade que deveríamos aplicar os recursos públicos do BNDES.
Em quarto lugar, o Estado deve estimular a agroecologia, que respeita o meio ambiente e preserva os bens da natureza.Em quinto lugar, é urgente um programa de universalização da educação, em todos os níveis, para povoados do meio rural.
É isto que a sociedade precisa debater com profundidade: de qual modelo agrícola precisamos no nosso país para acabar com a pobreza, distribuir renda e garantir o desenvolvimento?

JOÃO PEDRO STEDILE, 55, economista, é integrante da coordenação nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e da Via Campesina.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

PSOL alivia Serra e oposição de direita

O programa televisivo nacional do PSOL, apesar de divulgar iniciativas importantes como a CPI da dívida pública, e efetuar denúncias essenciais como a da recente legislação agrária pró-latifúndio, incorre em grave erro político ao não denunciar a oposição de direita, composta principalmente pelo PSDB e DEM.

O programa televisivo nacional do PSOL, em 30 de julho, apresentou como principal característica a ausência de críticas à oposição de direita, composta principalmente pelo PSDB e DEM.
Apesar de divulgar iniciativas populares e democráticas importantes como a CPI da dívida pública, e efetuar denúncias essenciais como a da recente legislação agrária pró-latifúndio, destruidora da floresta, na Amazônia, o PSOL, a meu ver, incorre em grave erro político.
Considera o governo Lula, um governo de centro, o inimigo central dos trabalhadores.
Nada mais falso. Se o governo Lula não ameaça o grande capital, está longe de ser o governo dos sonhos do grande capital.
Um governo ao estilo do de FHC, totalmente vende-pátria e privatizante, sumetido sem contratempos à hegemonia dos EUA, esse o goveno ideal do grande capital e das forças mais à direita (PSDB, DEM, PPS).
Eis a razão da campanha constante da grande mídia, Organizações Globo à frente, contra o governo Lula.
O núcleo duro da direita
O núcleo duro da direita está no PSDB, DEM, na mídia vendida (a quase totalidade da mídia); expressão política das forças sociais mais reacionárias, inimigas centrais dos trabalhadores e do povo: o grande capital imperialista e brasileiro, com destaque para o parasitismo financeiroe especulativo; o latifúndio, com destaque para sua versão moderna e predatória, o agronegócio.
O governo Lula é um governo de centro, com origem popular e democrática, obrigado por sua própria natureza a relevantes concessões populares e democráticas (por exemplo, o bolsa-família; o clima, no geral, de preservação e ampliação das liberdades democráticas; uma políticatimidamente desenvolvimentista - o PAC, e muito menos privatista que a de FHC, etc).
Mas o PSOL concentra o fogo no governo Lula e alivia o principal inimigo dos trabalhadores, a oposição de direita.
O poder vai muito além do governo Lula
Parte assim de uma lógica primária, considerar o governo como o responsável central pelos problemas populares, quando o real poder no Brasil vai muito além do governo Lula: está concentrado na política antipopular, antidemocrática e antinacional das gestões monetaristasdo Banco Central; no domínio da economia brasileira pelo imperialismo e o conjunto do grande capital; na grande mídia.
Ao não entender, ou talvez seja melhor dizer, não poder entender isso, o PSOL, ao tomar como inimigo central o presidente Lula (cuja grande popularidade não se deve ao acaso), ao aliviar completamente a oposição de direita, corta quaisquer possibilidades de diálogo, convencimentoe aliança com as imprescindíveis e amplamente majoritárias bases populares do lulismo.
No mais, o programa televisivo do PSOL mostrou os habituais personalismo e incontinência verbal de Heloísa Helena. E, momento triste, apareceu a deputada Luciana Genro - a mesma financiada nas eleições pela Gerdau, grande empresa do ramo siderúrgico beneficiária das privatizações; a mesma deputada que chegou a convocar passeata no Rio Grande do Sulem comum acordo com o movimento "Cansei", versão atualizada das marchas golpistas de 1964 -, tendo ao fundo "denúncias" da Veja, o panfleto mais virulento da extrema-direita.
E a independência da esquerda?
Pelo visto, a próxima eleição presidencial de 2010 aponta para uma aliança objetiva, consciente ou inconscientemente, da ultra-esquerda (PSOL, PSTU, PCB) com a candidatura mais reacionária, a candidatura privatizante e neoliberal do tucano José Serra, todos empenhados em bater no governo Lula.
Dado que o PC do B adere de maneira praticamente acrítica ao governo Lula, num desvio de direita, inverso ao da ultra-esquerda, a eleição de 2010 surge como ainda mais preocupante: os comunistas, e as demais forças populares, democráticas, e de esquerda, tendem a não exercersua própria independência política, ficando a reboque de forças políticas e sociais alheias.
Antônio Augusto é jornalista